Para mim, em toda a minha experiência "seriéfila" (que não é pouca),
houve um antes e um depois de LOST. Logo nos primeiros episódios, apercebi-me que não era uma série qualquer, era uma experiência sensorial tremenda pela qual estava prestes a passar. E lamentei não ter começado a ver antes. Passou imediatamente para o primeiro posto nas minhas preferências e, contrariamente a todas as críticas que li sobre o final, para mim teve
um dos últimos capítulos mais inspiradores de sempre. Pena que nem toda a gente entendeu.
Pelo título, e por ter ouvido falar aqui e ali, sabia que haveria
gente perdida numa ilha, que
um avião se despenharia, que veríamos
pessoas a tentar sobreviver, os seus problemas de sobrevivência, talvez alguns
confrontos entre eles, ou seja, o típico. E não deixa de ser verdade, porque
LOST é isto tudo. No entanto, se se tivesse ficado por aí de certeza que nunca se teria tornado no fenómeno em que se tornou.
Tudo começa quando o avião Oceanic 815 procedente de Sydney com destino a Los Angeles, se parte em dois, cai numa ilha do Pacífico e monta-se o caos. Imediatamente começamos a ver quem serão alguns dos personagens principais da história. Jack, Kate, Sawyer, Locke, Hurley... vão-se apresentando, e através dos famosos flashbacks (hoje tão comuns em qualquer série, em 2004 uma autêntica novidade) mostram-nos trechos das suas vidas peculiares antes do acidente. Cada um estava nesse avião por diferentes motivos, alguns dos quais são-nos revelados logo, outros apenas com o tempo. E esse é um dos triunfos de LOST: não mostrar tudo de rajada, mas ir brincando com o mistério e com a nossa necessidade urgente de respostas.
Num episódio piloto que ficou na história por ter sido o mais caro até então, rapidamente nos apercebemos que as vítimas do acidente não serão os únicos protagonistas da história. A ilha e as suas peculiaridades também o serão (porque nada é o que parece). Como também o serão os "Outros", o Fumo Negro, a figura ancestral de Jacob, and so on.
JACK, KATE E SAWYER, OS TRÊS PROTAGONISTAS QUE FORMAM O INDISPENSÁVEL TRIÂNGULO AMOROSO
Eu diria que LOST é uma espécie de puzzle gigante e complexo. À medida que as temporadas passam, as peças vão-nos sendo lançadas, mas o resultado final permanece difuso porque, por muito que tentes, as peças nunca encaixam. Ainda assim, continuamos a ver, na esperança de que as peças seguintes ganhem sentido a qualquer momento. Como vêem, nesta série não são só os personagens que estão perdidos. Mas também nós que a vemos. As perguntas vão-se acumulando, os mistérios vão aumentando, sem perspectiva de respostas à vista. Mas será que essas respostas nos vão ser dadas algum dia?
OS SEIS PERSONAGENS QUE FICAM CONHECIDOS COMO OS "OCEANIC SIX"
Na primeira temporada conhecemos os personagens e vivemos com eles todos os mistérios, depois conhecemos "Os Outros", vislumbra-se uma possível perspectiva de resgate, para logo mudarem as regras do jogo e nos introduzirem um factor temporal futuro. Na última temporada, passamos a uma realidade paralela alternativa, os
flasbacks dão lugar aos
flashforwards, e no meio disto tudo são-nos desvendados alguns mistérios e, finalmente, apresentado
um último capítulo controverso e que desiludiu milhões de seguidores. Curiosamente, a mim pareceu-me
o final mais poético e inspirador que poderiam conseguir para uma história tão peculiar como é a de
LOST.
UMA DAS CENAS FINAIS DE LOST, NA IGREJA, ONDE SE REÚNEM TODOS
E quem não percebeu isso, é porque não tirou o verdadeiro sentido da série. LOST não é uma série sobre acidentes de avião, sobre efeitos mágicos, ursos polares e números misteriosos. LOST é muito mais, é uma série sobre sentimentos e emoções, sobre um grupo de pessoas que mais do que estarem presas numa ilha, estão perdidas nas suas próprias vidas. Desiludidas num mundo que lhes vira as costas. Curioso como personagens como Sawyer, mas principalmente Locke e Jack, não querem voltar à vida que tinham em Los Angeles. Preferem continuar na ilha, porque aí sentem-se acolhidos, importantes, com um propósito.
Estas histórias são apenas o
meio para contar histórias mais grandiosas e profundas, histórias que abordam a origem da condição humana, do mal, o significado da família, da amizade, do amor.
Quem nunca se encontrou em algum momento perdido na sua própria vida? Quem nunca quis "regressar à ilha"?
A FAMOSA CENA DA MANTEIGA DE AMENDOIM COM CHARLIE E CLAIRE, UMA DAS MAIS ENTERNECEDORAS DA SÉRIE
HÁ QUEM SEJA TEAM KATE E SAWYER (NA FOTO). EU SOU COMPLETAMENTE TEAM KATE E JACK
Pessoalmente, o bonito de LOST foi passar horas e horas em frente do ecrã, emocionada perante o que estava a ver. Uma série única, diferente, que ainda hoje, depois de sete anos do final, continua a manter intrigados aqueles que decidem começar a vê-la. Eu nunca tinha sentido nada igual com outra série e é possível que nunca mais volte a sentir.
Portanto, o que posso dizer mais? Se ainda não viram, e ainda que não apreciem este conceito de survivors e uma carrada de mistérios envolvidos, vejam. Porque desde o fenómeno Losty, nunca mais foi feito nada parecido. LOST mudou a forma de fazer séries, de vê-las e de segui-las, e parece-me que ainda demorará algum tempo até que podamos dizer o mesmo de outra.
Para finalizar, deixo-vos com algumas das frases mais famosas da série e que marcaram a história da televisão:
"Live together, die alone!" (Jack)
Esta frase de Jack, o médico e líder incontestável do grupo, faz parte da primeira temporada, quando ele decide assumir definitivamente o papel, depois de alguns problemas de auto-confiança. Ainda que muitas vezes as suas escolhas não tenham sido as mais acertadas para o grupo, este discurso foi um momento decisivo na sobrevivência de todos.
"I'll see you in another life, brotha!" (Desmond)
Desmond, com aquele sotaque escocês que me mata, é o responsável por um dos chavões mais inesquecíveis e utilizados na série. Este personagem só aparece a partir da segunda temporada, para tornar-se a partir daí num protagonista incontestável. É um dos meus favoritos.
"Not Penny's boat!" (Charlie)
É também com Desmond que Charlie protagoniza esta cena de cortar o coração. Uma cena que viria a marcar o final trágico da terceira temporada.
"We have to go back!" (Jack)
Uma das grandes reviravoltas na série e um ponto essencial para o que viria a seguir. Novamente, o protagonista é Jack, que se sacrifica em prol dos amigos até à última cena. Um autêntico líder, herói e incontestavelmente o meu personagem favorito.