13/09/2010

Nada acontece por acaso!



Hoje, acidentalmente, cliquei numa aplicação do Facebook, intitulada de 'Hoje preciso...', daquelas em que ficamos a aguardar por uma resposta automática e, curiosamente, a mim calhou-me Ir às compras'. E, porque defendo que nada na vida acontece apenas porque sim, fiquei a reflectir no assunto.

Toda a gente que me conhece sabe o quanto gosto de moda, desde muito miúda. Lembro-me de ter quatro ou cinco anos e já ser louca por roupas, acessórios, pulseiras, anéis, eu sei lá! Lembro-me de por volta dessa idade ter partido um braço precisamente em Lisboa e, no hospital, não serem as dores que me atormentavam, mas o facto de os médicos me terem dito que iriam cortar as cinco ou seis pulseiras que trazia. Lembro-me que uma ida à boutique onde comprava sempre as minhas roupas era um dia de festa, para mim e para o meu irmão B., mais velho um ano e qualquer coisa que eu e igualmente preocupado com a imagem, aliás, muito mais :)!! Lembro-me de ser a fã mais incondicional da Barbie, de ter 'o património' todo, que ainda mantenho religiosamnete e no qual não deixo ninguém tocar sem a minha presença :)! Lembro-me de vibrar com a elegância e sofisticação desta boneca, de ter tudo dela, casa, carro, mota, toneladas de roupas e acessórios, de fazer mil e uma conjugações de looks, de sonhar um dia ser como ela. E isso seria possível naquela altura. Depois, entre os 11 e os 13 anos, esse sonho começou inconscientemente a desfazer-se. Sei-o hoje, porque na altura era demasiadamente infantil e ingénua para o perceber. Porque tornei-me numa menina gordinha. Na altura, continuava a ser uma criança feliz, pensava eu e pensavam todos os que me rodeavam. Mas hoje sei que não era assim, que olhava para mim e para as minhas amigas e via que algo não estava certo, que tinha mudado. Mas continuava com os sonhos que as bonecas me proporcionavam. Aos 13 anos, mudança de escola, de amigos, de porto seguro, de hábitos até. Diagnosticaram-me um problema de gordura no sangue, heriditário, comecei com as visitas trimestrais ao nutricionista Prof. Dr. Guerra, que me ajudou a reeducar a alimentação, a perder peso, a conhecer os alimentos que não nos fazem bem. Foram cerca de oito anos de análises clínicas, de subidas para a balança, de prática de desporto, de novas aprendizagens sobre o mundo da nutrição, de avanços e nunca de recuos (apenas nos valores de triglicéridos que por vezes não conseguia manter devido aos meus queridos doces :)) . Agradeço tanto àquele médico que durante um tempo vi como um tio, que se preocupava efectivamente comigo, que me dava 'puxões de orelhas' quando os valores não estavam como ele queria, que me felicitava quando havia progressos, que a cada visita me dizia como me estava a tornar cada vez mais bonita, que me ensinou a analisar todos os rótulos dos alimentos com  informação nutricional... enfim. Quando fui obrigada a deixar as consultas, por volta dos 21 anos, porque já não era criança e não podia continuar na pediatria, senti quase uma perda, mas como tudo na vida, rapidamente me adaptei e segui em frente com as minhas dietas, ora mais ora menos dedicada. Sei que este é um problema que vou ter para toda a vida e já aprendi a viver com ele. E toda esta contextualização para quê se o tema deste post é a minha paixão pelo belo, pela moda, pela imagem?

Porque em todas as etapas da minha vida, mesmo quando um top não me caía tão bem, nunca deixei de gostar deste mundo, porque é intrínseco, nasceu comigo e há-de permanecer até ao resto dos meus dias. Mesmo que hoje, principalmente no meio onde nasci, numa pequena cidade, sou vista por algumas pessoas como uma pessoa fútil, demasiadamente preocupada com a imagem, com compras, com shoppings. Andar irreprensivelmente bem cuidada, gostar de moda, trabalhar em moda faz parecer a estas pessoas que não tenho objectivos de vida? Que a minha vida é oca, desprovida de interesse culturais, de sentimentos até? Quando sinto ou oiço alguém dizer isso, depois de momentos de desilusão, por me estarem a avaliar mesmo não me conhecendo, coisa que eu abomino, ergo-me e continuo. Porque o melhor de mim é passado apenas às pessoas que eu quero, porque nada preciso de provar a quem me coloca um rótulo na testa, porque nunca fiz juízos de valor antes de conhecer, porque nunca fui preconceituosa, porque sou tolerante com a diferença, porque quero acima de tudo ser feliz, seja de cima de uns saltos agulha, seja de cima de uns ténis sujos e amarrotados. E enquanto eu estou a pensar na roupa que vou vestir no lançamento de uma nova acção de comunicação, de uma nova loja da marca para a qual trabalho, porque considero uma boa imagem parte do 'pacote' e é assim que me sinto mais eu, há pessoas que estão a pensar na maneira como eu vou aparecer e isso sim, é uma tremenda perda de tempo. As aparências iludem , meus amigos, por muito que goste de trapos, não faço deles o meu fio condutor. É verdade que sem eles não seria tão feliz, mas o ser humano, como já disse, adapta-se a tudo e se um dia tiver de abdicar deste gosto por alguma circuntância da vida, assim o farei, porque sempre terei pequenas coisas que me farão certamente tão ou mais realizada. Pessoas, acima de tudo!

E não, hoje não preciso de ir às compras, porque tenho tudo aquilo que me faz falta, e porque depois de um dia de trabalho o que mais me dá prazer é estar com os que mais amo e não enfiar-me dentro de um shopping. As compras, tão necessárias, são para quando há um motivo e posso garantir-vos que na minha vida há muitos!!!

Haja felicidade e está tudo óptimo!!!

Beijooo

3 comentários:

  1. Márcia,

    Actualmente, uma apresentação cuidada é quase tão importante como o curriculum vitae.
    No entanto, apesar de ser a própria sociedade a impor os cânones de beleza, é a primeira a "apontar-nos" o dedo.

    Julgo que o mito de que as pessoas que se interessam ou trabalham em Moda são fúteis, vazias e sem interesses, surgiu pelo facto de na década de 90 se contratarem modelos de 13 e 14 anos. Naturalmente com essa idade, estas meninas não tiveram tempo de adquirem conhecimentos, nem sequer tiveram tempo para brincar...
    Daí que se associe que para trabalhar neste ramo um palminho de cara seja suficiente.

    De qualquer forma, por uma razão que eu desconheço, as pessoas no geral, reagem das mais diversas formas (elogiando, criticando, invejando, desdenhando)a quem cultiva o gosto pela Moda.
    Esquecem-se que isso pode ser uma coisa natural em nós (tal como nelas o é não darem importância)e que não o fazemos para nos superiorizarmos.

    Só indivíduos muito limitados assumem como verdade absoluta que aparência e inteligência são incompatíveis.

    No meu intimo, estou convicta que essas pessoas que se auto intitulam de interessantes e cultas não passam de umas frustradas invejosas.

    http://bookdeumafashionista.blogspot.com/

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  2. Oi Márcia.

    Costumo ver o teu blog, sempre que lanças posts novos, no entanto nunca comentei. Hoje, ao ver que te abriste desta maneira, senti necessidade de te dar todo o meu apoio.

    Não conhecia esse teu problema. Fico feliz por o teres ultrapassado da melhor forma. E espero que, de futuro, continue a correr igualmente bem.

    Como tu bem dizes, existem pessoas que pensam que por uma pessoa gostar de moda se torna fútil. Sei bem disso. Não trabalho no meio, nem me posso considerar uma pessoa glamourosa e sofisticada. No entanto, gosto de me exprimir pelo que visto. Gosto do meu andar de camisinha, gravata e sapatilhas. Gosto de cortar o cabelo mês sim, mês não. Gosto de ser apontada no trabalho como a miúda irreverente.

    Mas tudo isto eu crio a partir da minha leitura de revistas como a Elle e a Vogue, da minha Fashion Tv, onde vejo os desfiles de alta costura... enfim. Sou uma consumidora compulsiva. Só que sei olhar para mim, e sei até onde posso ir, aliando o meu corpo ao meu estilo. Sei bem que tenho as pernas gordinhas, e logo não vou usar uns shorts curtinhos ou uma mini saia. Sei que tenho a anca larga e não vou usar túnicas que acabem nesta zona. Adapto-me. Mas sinceramente gosto, gosto muito. Tenho amigas até que me perguntam opiniões.

    Um dos meus sonhos sempre foi ser fotógrafa de moda. Provavelmente nunca conseguirei, mas lá vou fazendo as minhas fotos amadoras.

    Tudo isto para dizer que sim. Compreendo-te. Tenho a certeza que existe muita gente que me olha e pensa que sou fútil por gostar das coisas que gosto. Sei dos olhares reprovadores quando falo das maravilhas da Alta Costura. No entanto fico triste quando falo de Karl Lagerfeld e ninguém conhece.

    Para mim moda é arte. Quem a faz são indivíduos que para mim, são artistas. Em relação a mim, a moda é uma forma de me exprimir. Não podem ser só considerados avant gard quem se exprime através de uma pintura, escultura e outros que tais. Porque é que o meu corpo não pode ser uma tela em branco, onde eu posso pintar o que eu quiser. Ser o que eu quiser?

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  3. Sofia e Faneca, obrigada pelos comentários e apoio :). É muito bom sermos nós próprios mas, melhor ainda, é sermos compreendidos ;)
    Bjs

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Muito obrigada pelo feedback!!